quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Teatro :: Monólogo :: A Alma Imoral



:: ELA ::

Eu aqui a folhear livros. Ainda bem que o teatro fica dentro da livraria e tenho como passar o tempo. E passar o cartão, também. Meu impulso feminino natural de gastar e a minha voracidade literária falavam meio anjinho, meio diabinho “Compra, compra, compra”. Resisti. Pra variar ele atrasado. Aproveito para já começar meu texto. Clarice Niskier deve estar em concentração. Faltam 5 minutos, nada dele. Vamos perder os ingressos, pensei. Vou entrar sozinha! Repensei. Esperei mais um pouco. Ele chegou. Ufa. Depois dou bronca. O importante agora é encontrarmos nossos lugares. Segunda fila. Ótimo. Adorei a peça. Começa com as luzes acesas. Um bate-papo da atriz com a platéia. Clima descontraído. Ela explicou o desafio do monólogo. De interpretar um livro de filosofia. Adorei. Fora o show de interpretação da Clarice que fica nua logo no início do espetáculo, no discurso as definições da moralidade da alma. Nesse momento, claro que fiquei com vontade de tapar os olhos dele. Mas tudo bem, arte é arte. O figurino – apesar dela estar nua a maior parte da peça – é de tirar o chapéu. Eu disse o chapéu. Apenas um pano preto adaptado para cada cena. Vale muito conferir. Vale tanto, que até esqueci de puxar a orelha dele por causa do atraso.

(Amelie de Moraes)

:: ELE ::

Toca o celular, de novo. Desta vez vou atender. “Oi meu amor estou quase chegando”. Quase chegando? Eu ainda estava longe. Mas iria levar bronca se ela soubesse que estava tão longe. Prefiri arriscar e contar com a sorte do trânsito sorrir pra mim e abrir caminho. Como Moisés fez com o mar vermelho. Essa parábola bíblica é muito bem discutida na peça. Muito bom, mesmo. Mas o trânsito estava de mau humor e num teve reza que me fizesse passar ali por cima dos carros. Tudo bem. Tive uma brilhante ideia. Vou estacionar aqui e ando até lá. Afinal estou perto. Perto!? Só se estivesse de helicóptero aquilo era perto. Fui correndo. De sapato, calça jeans. Meio que maratonista de primeira viagem. Ufa, cheguei. Um pouco assado e suado, mas cheguei. Lógico que ela estava com “ares de bom humor”. Estou falando da atriz, claro. Mesmo sendo um drama, são vários os momentos de risadas. A verdade da vida é saborosa e por mais dolorida, pode nos fazer rir. Fantástica interpretação. Prêmio Shell merecido para atriz. O texto é brilhante. A peça é uma resposta para um fax meio desaforado que uma tal de Léia mandou pra Clarice. Gostaria de pedir para a autora do fax ler este texto e assistir a peça, mas no imperativo ficaria "Léia, leia". Com a recente reforma ortográfica o correto é "Leia, leia". Não vou conseguir me expressar. Sinto muito pela reforma que roubou seu acento, mas mesmo assim, muito obrigado "Léia". Toda regra tem sua excessão e como diz a peça, o certo pode ser errado e o errado pode ser certo. Bom, vou resumir em única palavra: pensar. É, o texto me fez pensar. Posso dizer que saí de lá renovado. Bom pra repensar. Até minha mentira “estou chegando” concluí que foi uma coisa errada, mas certa naquele momento. Aplausos de pé. Tive vontade de ficar mais um pouco para parabenizar a Clarice e contar da estreia deste blog, logo hoje. Mas saí de fininho, pois já esperava um puxão de orelha pelo atraso. Ufa, ela esqueceu da bronca. Tomara que não tenha lembrado de usar nosso cartão de crédito aqui dentro.

(Feliperas França)

Conheça a ficha técnica agenda e todas informações da peça no site oficial. Clique aqui.
PS: Clarice, 50 pila dói o bolso. Beijo.